As minhas noites apesar de escuras eram preenchidas pelo
som da música que ecoava nos meus ouvidos e pelo sabor de pequenas dependências
de uma noite. Não havia um único momento de silêncio para além daquele que eu
lançava para a multidão à minha volta.
Eu era mesmo assim, com uma labareda cálida a explodir
das entranhas no meu corpo que aquecia todos em meu redor e alimentava o meu
ego. Eu emanava uma forte sensação de sedução com o meu ar inocente, rosto
neutro que esboçava sorrisos indirectos enquanto me movimentava lenta e
intensamente perante figuras masculinas que arriscavam a sua sorte em
dirigir-me uma palavra, um toque, um pedido ou até um beijo roubado, por vezes.
Eu podia ter na palma da minha mão desde uma palavra
amiga a declarações de amor eterno, podia ter um abraço inocente a um abraço
com segundas intenções e podia até beijar alguém por uma noite ou poder
beijá-lo a ele durante o tempo que quisesse até que me fartasse da palavra
“amor”.
Mas o meu ser verdadeiro, encontrava-se longe dali onde
eu me encontrava no centro do mundo. Estava longe daquele edifício de som
vicioso, bebidas coloridas, fumo intoxicante e pessoas atraídas, perdido num
oceano de memórias, suposições e imaginação.
A minha mente flutuava nas cores de um azul-marinho.
Flutuava no ondular de um olhar que há noite se tornava mais esverdeado do que
propriamente azul azulado e foi isso que me trouxe à miséria.
O tempo corria como ele próprio corria de mim e eu
limitava-me a vê-los correr juntos para bem longe de mim até que mais nada
sobrasse do tal dos olhos claros e que perdesse conta que havia um limite de
tempo e começasse a achar que horas fossem minutos. Ou seja, ele deixou-me cedo
de mais, deixou-me sem que eu estivesse preparada.
Porque ele foi quem me deixou presa por um olhar, quem me
deixou louca por um toque e desejosa por um beijo, foi ele. E quando ele me
beijou, o feitiço virou-se contra mim e foi a altura em que eu me tornei a
vítima. Endoideci por ele e ele olhava-me com olhos de quem brinca e que se
cansa no final e volta à realidade. A realidade a qual eu nunca voltei.
Deixei de saber dançar durante a noite toda e de ter o
olhar preso em mim.
Deixei de sair porque fora das quatro paredes do meu
Mundo era muito diferente e deixava-me receosa e amedrontada por tudo o que ele
fizesse ou por um único olhar. Estava insana.
Insana, repito. Insana por quem não se interessa.
Cheguei a erguer as minhas mãos em direcção à Lua que
lança sobre mim o habitual brilho pálido e insonso das noites que passam sem
parar. E quando foram impedidas de avançar pelo toque quente do vidro da janela
que separa os meus dois mundos, consigo sentir um pouco quente que outrora me
envolvia. O pouco calor que para muitos tratou-se de um prazer.
Mas agora sinto-me dolorosamente fria…
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